Dez Pensamentos de Guy de Larigaudie

Autor desconhecido

1) A vida ideal é aquela que Deus quer para cada um de nós: monge, aventureiro, poeta, sapateiro ou agente de seguros.

2) Descascar batatas por amor a Deus é tão belo quanto construir catedrais.

3) Não somos senão almas deficientes em pobres corpos carregados de desejos. Mas nós vos amamos, meu Deus, nós vos amamos com toda a força destas pobres almas, com toda a força destes pobres corpos.

4) Há certas noites em que, sentados no fundo de uma igreja, sem sequer conseguirmos rezar, ou ao ar livre, sob as estrelas, para, apesar de tudo, sentirmos junto a nós algo de grande, não podemos senão repetir esta pobre frase, à qual nos agarramos como a uma bóia, para não afundarmos: Meu Deus, apesar de tudo eu vos amo.

5) É preciso aderir à vida como ao dorso de um cavalo. É preciso seguir com flexibilidade cada um de seus movimentos, sem que jamais nos inteiricemos contra ela.

6) Quando, diante do mar, do deserto ou de uma noite pejada de estrelas sentimos o coração transbordante de amor incompleto, é doce pensar que, na outra vida, encontraremos algo mais belo, mais vasto, algo à escala de nossa alma, e que cumulará este imenso desejo de felicidade, que é nosso tormento e nossa grandeza de homens.

7) Banhei-me no lago Tiberíades e vi, à luz de meus faróis, a raposa das parábolas.

8) Um trabalhador em terraplenagem e um monge deveriam recitar a mesma prece: “Meu Deus, fazei que eu cumpra com minha vocação.” Seus destinos não são, de modo algum, diferentes. Cada qual, fazendo valer suas capacidades e seus dons, realiza-se a si mesmo e, assim fazendo, trabalha para a glória de Deus.

9) Ainda que, por vezes, eu a tenha experimentado, jamais ruminei a amargura de saber frágeis e efêmeras todas as belezas e todas as alegrias do mundo. Nelas nunca vi mais que o reflexo imperfeito das belezas e alegrias de uma outra vida, da qual jamais duvidei.

10) Passeei pelo mundo como num jardim rodeado de muros. Vivi aventuras de uma extremidade a outra dos cinco continentes e, um após outro, realizei todos os sonhos de minha infância. O parque da velha mansão perigordina, onde dei meus primeiros passos, estendeu-se até os confins da terra e eu joguei sobre o mapa-múndi o belo jogo de minha vida. Contudo, os muros do jardim mais não fizeram que recuar e eu ainda me sinto engaiolado. Mas um dia virá em que poderei cantar meu canto de amor e alegria. Todas as barreiras se aluirão. E eu possuirei o Infinito.

Guy de Larigaudie (Estrela de Alto-Mar, 1943)

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