Mostrando postagens com marcador Sermão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Sermão. Mostrar todas as postagens

Sermão: Meditação Sobre a Brevidade da Vida — Jacques-Bénigne Bossuet

Death of an Orphan, Stanisław Grocholski

É bem pouca coisa o homem, e tudo aquilo que  tem fim é bem pouca coisa. Virá o tempo em que este homem que nos parecia tão grande não será mais, em que será como a criança que ainda está por nascer, em que não será nada.

Esteja-se pelo tempo que se estiver no mundo, mesmo que seja por mil anos, é preciso vir aqui. Não há senão o tempo de minha vida que me faz diferente daquilo que não foi jamais: essa diferença é bem pequena, já que no fim eu serei ainda confundido com aquilo que não é, e que chegará o dia em que não parecerá que eu fui, e no qual pouco me importará por quanto tempo eu tenha sido, já que não serei mais.

Por Que os Peixes se Salvaram no Dilúvio?

The Sermon of Saint Anthony and the Fish, Francisco Rizzi

No tempo de Noé sucedeu o dilúvio, que cobriu e alagou o mundo, e de todos os animais quais se livraram melhor? Dos leões escaparam dous, leão e leoa, e assim dos outros animais da terra: das águias escaparam duas, fêmea e macho, e assim das outras aves. E dos peixes? Todos escaparam, antes não só escaparam todos mas ficaram muito mais largos que dantes, porque a terra e mar tudo era mar. Pois se morreram naquele universal castigo todos os animais da terra e todas as aves, por que não morreram também os peixes? Sabeis por quê? Diz Santo Ambrósio, porque os outros animais, como mais domésticos ou mais vizinhos, tinham mais comunicação com os homens; os peixes viviam longe e retirados deles. Facilmente pudera Deus fazer que as águas fossem venenosas e matassem todos os peixes, assim como afogaram todos os outros animais. Bem o experimentais na força daquelas ervas com que infeccionados os poços e lagos a mesma água vos mata; mas como o dilúvio era um castigo universal que Deus dava aos homens por seus pecados, e ao mundo pelos pecados dos homens, foi altíssima providência da divina justiça que nele houvesse esta diversidade ou distinção, para que o mesmo mundo visse que da companhia dos homens lhe viera todo o mal; e que por isso os animais que viviam perto deles, foram também castigados e os que andavam longe ficaram livres. Vede, peixes, quão grande bem é estar longe dos homens. Perguntado um grande filósofo qual era a melhor terra do mundo, respondeu que a mais deserta, porque tinha os homens mais longe.

Pe. António Vieira (Sermão de Santo Antônio aos Peixes, 1654)