Adultério

Susannah Accused of Adultery, Antoine Coypel
Susannah Accused of Adultery, Antoine Coypel

ADULTÉRIO é a cópula entre pessoa casada e outra que não seja o seu cônjuge. É pecado mortal contra a castidade, e também contra a justiça, porque viola o direito do cônjuge inocente; é uma profanação da santidade do Matrimônio; é uma quebra da promessa feita solenemente à face da Igreja. O Apóstolo S. Paulo condena o adultério, dizendo que os adúlteros serão excluídos do Reino de Deus. Ep. I Cor. Vi., 9. Aquele que pratica adultério, com o fim combinado de casar com o seu cúmplice após a morte do legítimo cônjuge, não pode validamente contrair tal matrimônio. C. 1075

Pe. José Lourenço (Dicionário da Doutrina Católica, 1945)

Poesia: Para o Mundo Desprezar Cumpre a Morte Meditar — Jacopone da Todi

Death Comes to the Banquet Table, Giovanni Martinelli

Lauda Della Morte

Para o mundo desprezar
cumpre a morte meditar.

Morte é fera, dura e forte,
dá a todos igual sorte,
portas caem ante a morte:
ninguém dela há de escapar.

Muita gente em grão temor
vive sempre com terror
e consciente do estertor
de passar por esse mar.

Papas com imperadores,
cardeais com grão-senhores,
justos, santos, pecadores
sabe a morte equiparar.

Ela vem tal furacão,
furta o homem qual ladrão,
toma ao farto a refeição,
corpos faz putrificar.

Não aceita vis presentes,
bens lhe são indiferentes,
nem amigos nem parentes
cuida a morte de poupar.

Não a vence fortaleza,
nem sapiência nem beleza;
torres, paços e grandeza,
tudo a morte quer danar.

Ao que é rico e afortunado
ou agiota deslumbrado
soa amargo este recado
se não busca se emendar.

Para o justo é grande gosto
quando a morte o acha exposto:
jaz o corpo decomposto,
vai com Deus a alma estar.

Pecadores, retornai;
aos pecados renunciai
e na morte repensai;
não deixeis vos afogar.

Pois quem ama noite e dia
Nossa Mãe, Santa Maria,
usufrui da garantia
de ser posto em bom lugar.

Tradução: Gabriel Campos Medeiros

Alma

Le poeme de l'Ame, Louis Janmot


ALMA
é um espírito imortal, incorruptível, dotado de inteligência e de vontade, criado por Deus para forma do corpo humano. É criada para cada corpo humano depois de concebido, e contrai o pecado original no momento da sua união com o corpo. É operação própria da alma entender o que abstrai das coisas sensíveis por meio dos sentidos. É pela alma que conhecemos e queremos. Está toda em todo o corpo e em cada parte do corpo, dando-lhe unidade e vida. Após a morte, vai imediatamente ou para o Céu, ou para o Purgatório, ou para o Inferno, segundo a sentença que Deus lhe der, e conserva os conhecimentos adquiridos neste mundo. Pode conhecer as ações dos vivos pelas almas que vão entrando na eternidade, ou pelos Anjos, ou pelos demônios, ou por revelação de Deus, e pode aparecer aos vivos, mas tal aparição é miraculosa.— A alma, porque é puramente espiritual, não tem forma, nem peso, nem cor; é invisível, mas todos vêem os seus efeitos, atos que nenhum corpo é capaz de produzir: entender, querer, amar, raciocinar. — Devemos querer-lhe mais do que ao corpo. — A salvação da nossa alma é o negócio mais importante da nossa vida, pois disse Jesus: «Que aproveita ao homem ganhar todo o mundo, se vier a perder a sua alma?». Ev. S. Mat. XVI. 26. É também um negócio absolutamente pessoal, pois ninguém pode substituir outrem no trabalho da sua santificação. Ao mesmo tempo é um negócio urgente, porque a vida é breve e a morte pode chegar repentinamente. Por isso Jesus preveniu: «Estai preparados». Há quem diga que a alma não existe, que o homem é apenas um animal aperfeiçoado. Isto é uma afirmação falsa. Com efeito, se o homem fosse apenas um animal aperfeiçoado, não haveria entre ele e os outros animais senão uma diferença de grau, isto é, as faculdades que existem nos animais seriam mais perfeitas no homem, e nele não haveria mais faculdades que nos animais. Mas sucede o contrário: o homem é menos forte que o boi, menos ligeiro que o cão, etc. Há no homem faculdades que nenhum animal possui: a faculdade de pensar, a de compreender, a de julgar, a de falar, a de progredir, a de prestar culto. Estas faculdades são absolutamente distintas das faculdades do corpo, são de natureza mais elevada, mais nobre, são de natureza espiritual. Os animais têm o instinto preciso para se conservarem e se reproduzirem. Só o homem tem a inteligência indispensável para progredir. As faculdades que são só do homem existem na alma humana.

Pe. José Lourenço (Dicionário da Doutrina Católica, 1945)

Dia 27 de Junho: Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

Our Mother of Perpetual Succour

A devoção a Nossa Senhora, sob o título de Perpétuo Socorro, propagou-se rapidamente depois de 1870, graças ao zelo da congregação do Santíssimo Redentor.

Os filhos de Santo Afonso de Liguori formaram, desde a origem, uma congregação muitíssimo devota da Santa Mãe de Deus, adotando como emblema daquela devoção a imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho.

Em 1866, a Virgem confiou aos redentoristas o tesouro de uma de suas imagens miraculosas — Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em que Ela leva no braço esquerdo o Menino Jesus, ao qual o arcanjo Gabriel apresenta quatro cravos e uma cruz.

Levada a Roma em fins do século XV por um mercador cretense, foi colocada na igreja de São Mateus in Merulana, por volta de 1499.

Honrada ali até 1812, demolida a igreja, passou a um oratório dos agostinianos.

Em 1886, os redentoristas conseguiram de Pio IX a venerável imagem, a qual levaram e colocaram na igreja de Santo Afonso, no Esquilino, entre São João de Latrão e Santa Maria Maior.

Inumeráveis, então, foram as graças que se obtiveram por intercessão de Nossa Senhora, honrada sob aquele título de Mãe do Perpétuo Socorro, “Senhora da morte e Rainha da vida”, como disse Verlaine. É o auxilium christianorum, aquela que, em se pedindo com fervor, apressa-se a vir em socorro dos pobres filhos que gemem neste vale de lágrimas, aquela para a qual não existe o impossível e que tudo consegue do incomensurável Coração do Divino Filho, fonte inexaurível de todas as graças, de luz e de salvação.

Pe. René François Rohrbacher (Vida dos Santos, 1853)

Pintura: Martírio de São Sebastião — Anônimo

Martyrdom of St. Sebastian - Anonymous

Dez Pensamentos de Guy de Larigaudie

Autor desconhecido

1) A vida ideal é aquela que Deus quer para cada um de nós: monge, aventureiro, poeta, sapateiro ou agente de seguros.

2) Descascar batatas por amor a Deus é tão belo quanto construir catedrais.

3) Não somos senão almas deficientes em pobres corpos carregados de desejos. Mas nós vos amamos, meu Deus, nós vos amamos com toda a força destas pobres almas, com toda a força destes pobres corpos.

4) Há certas noites em que, sentados no fundo de uma igreja, sem sequer conseguirmos rezar, ou ao ar livre, sob as estrelas, para, apesar de tudo, sentirmos junto a nós algo de grande, não podemos senão repetir esta pobre frase, à qual nos agarramos como a uma bóia, para não afundarmos: Meu Deus, apesar de tudo eu vos amo.

5) É preciso aderir à vida como ao dorso de um cavalo. É preciso seguir com flexibilidade cada um de seus movimentos, sem que jamais nos inteiricemos contra ela.

6) Quando, diante do mar, do deserto ou de uma noite pejada de estrelas sentimos o coração transbordante de amor incompleto, é doce pensar que, na outra vida, encontraremos algo mais belo, mais vasto, algo à escala de nossa alma, e que cumulará este imenso desejo de felicidade, que é nosso tormento e nossa grandeza de homens.

7) Banhei-me no lago Tiberíades e vi, à luz de meus faróis, a raposa das parábolas.

8) Um trabalhador em terraplenagem e um monge deveriam recitar a mesma prece: “Meu Deus, fazei que eu cumpra com minha vocação.” Seus destinos não são, de modo algum, diferentes. Cada qual, fazendo valer suas capacidades e seus dons, realiza-se a si mesmo e, assim fazendo, trabalha para a glória de Deus.

9) Ainda que, por vezes, eu a tenha experimentado, jamais ruminei a amargura de saber frágeis e efêmeras todas as belezas e todas as alegrias do mundo. Nelas nunca vi mais que o reflexo imperfeito das belezas e alegrias de uma outra vida, da qual jamais duvidei.

10) Passeei pelo mundo como num jardim rodeado de muros. Vivi aventuras de uma extremidade a outra dos cinco continentes e, um após outro, realizei todos os sonhos de minha infância. O parque da velha mansão perigordina, onde dei meus primeiros passos, estendeu-se até os confins da terra e eu joguei sobre o mapa-múndi o belo jogo de minha vida. Contudo, os muros do jardim mais não fizeram que recuar e eu ainda me sinto engaiolado. Mas um dia virá em que poderei cantar meu canto de amor e alegria. Todas as barreiras se aluirão. E eu possuirei o Infinito.

Guy de Larigaudie (Estrela de Alto-Mar, 1943)