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The Lamentation of Christ (c. 1510 - c. 1515) - Colijn de Coter |
Ainda que procuremos o amor durante toda a existência, não o atingiremos senão de uma maneira imperfeita, que nos faz sangrar o coração. E, se o obtivermos em vida, que nos sobrará dele após a morte? Uma oração amiga que nos acompanhe além da terra, uma lembrança piedosa que pronuncie ainda o nosso nome, mas, logo o céu e a terra avancem um passo, vem o esquecimento, o silêncio nos envolve, de plaga alguma sopra mais sobre a nossa sepultura a brisa etérea do amor. Tudo está acabado, acabado para sempre, e essa é a história do homem no amor.
Engano-me, Senhores, há um homem cujo túmulo é velado pelo amor, um homem cujo sepulcro não é apenas glorioso, como o afirmou um profeta, mas amado.
Um homem cujas cinzas, depois de dezoito séculos, ainda não arrefeceram; renasce cada dia no pensamento de uma multidão incalculável. (...) Um homem morto e sepultado de quem se aguardam o sono e o despertar, de quem ressoa ainda cada uma das palavras, gerando mais que o amor, gerando virtudes que frutificam no amor. Um homem acorrentado, há séculos, a um patíbulo, e esse homem, milhares de adoradores O desprendem cada dia do seu trono de suplício, dobram os joelhos diante d’Ele, prostram-se humildemente, sem com isso se envergonharem, e aí, curvados, beijam-Lhe com um ardor indizível os pés ensanguentados. Um homem flagelado, morto, crucificado, que uma inenarrável paixão ressuscite da morte e da infâmia, para recolocá-Lo na glória de um amor que nunca desfalece, que encontra n’Ele a paz, a honra, a alegria e até o êxtase. Um homem perseguido, no seu suplício e no seu túmulo, por um ódio inextinguível, e que, convocando apóstolos e mártires em cada posteridade que surge, encontra apóstolos e mártires no seio de todas as gerações. Um homem enfim, e o único que tenha estabelecido seu amor sobre a terra, e esse homem sois Vós, ó Jesus! Vós que houvestes por bem batizar-me, ungir-me, santificar-me em vosso amor e cujo nome, só ele, neste momento, descerra as minhas entranhas e delas arranca esta
linguagem que a mim mesmo perturba e de que eu próprio não me sabia capaz
Henri Dominique Lacordaire (1802-1861)
Henri Dominique Lacordaire (1802-1861)
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