O Batismo de Jesus Cristo — Maerten De Vos

Maerten De Vos, The Baptism of Christ 

O Amor Perfeito

The Lamentation of Christ (c. 1510 - c. 1515) - Colijn de Coter

Ainda que procuremos o amor durante toda a existência, não o atingiremos senão de uma maneira imperfeita, que nos faz sangrar o coração. E, se o obtivermos em vida, que nos sobrará dele após a morte? Uma oração amiga que nos acompanhe além da terra, uma lembrança piedosa que pronuncie ainda o nosso nome, mas, logo o céu e a terra avancem um passo, vem o esquecimento, o silêncio nos envolve, de plaga alguma sopra mais sobre a nossa sepultura a brisa etérea do amor. Tudo está acabado, acabado para sempre, e essa é a história do homem no amor.

Engano-me, Senhores, há um homem cujo túmulo é velado pelo amor, um homem cujo sepulcro não é apenas glorioso, como o afirmou um profeta, mas amado. Um homem cujas cinzas, depois de dezoito séculos, ainda não arrefeceram; renasce cada dia no pensamento de uma multidão incalculável. (...) Um homem morto e sepultado de quem se aguardam o sono e o despertar, de quem ressoa ainda cada uma das palavras, gerando mais que o amor, gerando virtudes que frutificam no amor. Um homem acorrentado, há séculos, a um patíbulo, e esse homem, milhares de adoradores O desprendem cada dia do seu trono de suplício, dobram os joelhos diante d’Ele, prostram-se humildemente, sem com isso se envergonharem, e aí, curvados, beijam-Lhe com um ardor indizível os pés ensanguentados. Um homem flagelado, morto, crucificado, que uma inenarrável paixão ressuscite da morte e da infâmia, para recolocá-Lo na glória de um amor que nunca desfalece, que encontra n’Ele a paz, a honra, a alegria e até o êxtase. Um homem perseguido, no seu suplício e no seu túmulo, por um ódio inextinguível, e que, convocando apóstolos e mártires em cada posteridade que surge, encontra apóstolos e mártires no seio de todas as gerações. Um homem enfim, e o único que tenha estabelecido seu amor sobre a terra, e esse homem sois Vós, ó Jesus! Vós que houvestes por bem batizar-me, ungir-me, santificar-me em vosso amor e cujo nome, só ele, neste momento, descerra as minhas entranhas e delas arranca esta linguagem que a mim mesmo perturba e de que eu próprio não me sabia capaz

Henri Dominique Lacordaire (1802-1861)

Ave Maria, Tão Pura, Virgem Nunca Maculada

The Virgin In Prayer Surrounded, Sassoferrato

AVE-MARIA

À minha mãe

Ave Maria
, tão pura,
Virgem nunca maculada
Ouvi a prece tirada
No meu peito da amargura!

Vós que sois cheia de graça,
Escutai minha oração,
Conduzi-me pela mão
Por esta vida que passa!

O Senhor, que é vosso filho
Que seja sempre connosco,
Assim como é convosco
Eternamente o seu brilho!

Bendita sois vós, Maria,
Entre as mulheres da terra;
A vossa alma só encerra
Doce imagem de alegria!

Mais radiante do que a luz
E bendito, oh Santa Mãe,
É o fruto que provém
Do vosso ventre, Jesus!

Gloriosa Santa Maria,
Vós que sois a Mãe de Deus
E que morais lá nos céus,
Velai por mim cada dia!

Rogai por nós pecadores,
Ao vosso filho, Jesus,
Que por nós morreu na cruz
E que sofreu tantas dores!

Orai, agora, oh Mãe querida
E (quando quiser a sorte)
Na hora da nossa morte
Quando nos fugir a vida!

Ave Maria, tão pura,
Virgem nunca maculada,
Ouvi a prece tirada
No meu peito da amargura.

Fernando Pessoa (1888-1935)

O Batismo de Jesus Cristo — Guido Reni

Guido Reni, The Baptism Of Christ

Oração de Isabel de Castela

Isabella the Catholic

Tengo miedo, Señor
de tener miedo
y no saber luchar.
Tengo miedo, Señor,
de tener miedo
y poderte negar.
Yo te pido, Señor,
que en Tu grandeza
no te olvides de mí;
y me des con Tu amor
la fortaleza
para morir por Ti.